A biografia de Sócrates é contada por
Xenofonte e Platão, que fez dele a figura principal de seus diálogos,
rincipalmente na Apologia de Sócrates e Fédon. Era Ateniense,
filho de uma parteira e de um escultor. Recebeu
uma educação tradicional, estudando a obra de Homero
(A Ilíada e A Odisséia, que contavam a história da
guerra de Tróia, dos gregos contra os troianos, e do retorno do
herói Ulisses para sua terra natal. São de caráter
épico. Muitos chegaram a duvidar da existência de Homero,
ou disseram que ele seria só um coletor de contos do folclore popular,
e não o legítimo autor.)
Desde a juventude interessou-se pela filosofia, e conhecia o pensamento anterior e contemporâneo dos filósofos gregos. Interessava-se pela conversa em locais públicos, e fazia muitas andanças conversando nas praças e mercados. Participou do movimento de renovação da cultura e foi um educador popular. Nunca trabalhou e só pensava no presente. Muitas vezes, só comia quando seus discípulos o convidavam para suas mesas. Foi casado com Xantipa, mas não parava em casa. Teve três filhos.
De início, interessava-se pelos ensinamentos dos filósofos da natureza, mas depois revoltou-se contra eles, pois eles haviam sido filósofos físicos, que procuravam respostas nas causas exteriores e gerais da natureza. Achava que existe algo mais digno para se estudar, existe a psyche, ou a mente do homem. Por isso, sondou a alma humana , em questões como a da facilidade de justiça dos atenienses, porque esses lidam com tanta facilidade com a vida e a morte, honra patriotismo, moralidade. Em que se baseiam? E o que entendem por eles próprios? Assim descobriu que o homem é sua alma, e não o corpo, pois o que manipula o corpo é a alma. Foi contra os sofistas, por achar que a verdade é apenas uma, e condenavam seu relativismo.
Os sofistas foram mestres da oratória, que
vendiam para os cidadão suas habilidades com o discurso, fundamental
para a política. Assim, defendiam a opinião de quem lhes
pagasse bem. Acreditavam que a verdade vêm do consenso entre os homens.
Os principais foram Górgias, Protágoras e Hipías.
Para eles a realidade sensível não é inteligível,
a linguagem é arbitrária, as palavras traem os pensamentos.
O homem é a medida de todas as coisas, para o homem. Por isso não
existiriam coisas como o frio real. O frio é frio apenas para quem
o sente. E também não existiriam um sentimento natural de
pudor. Os sofistas destruíram a fé que a juventude tinha
nos deuses do Olimpo e no código moral que se baseava no
medo da divindade.
Sócrates usava nas suas conversas com os cidadãos
um método chamado maiêutica, que consiste em forçar
o interlocutor a desenvolver seu pensamento sobre uma questão que
ele pensa conhecer, e po-lo em contradição. Tem duas frases
famosas: "Só sei que nada sei" e "Conhece-te a ti mesmo". O verdadeiro
filósofo sabe que sabe muito pouco, e ele se autodenominava assim.
A palavra filosofia significa amizade ao saber. As etapas do saber seriam:
ignorar sua
ignorância, conhecer sua ignorância, ignorar seu saber
e conhecer seu saber. As opiniões não são verdades
pois não resistem ao diálogo crítico.
Conversar com Sócrates podia ser expor-se ao ridículo, e ser apanhado numa complexa linha de pensamento exposta através de palavras, ficar totalmente envolvido. Compara sua atividade à de uma parteira (como sua mãe), que embora não desse a luz à um bebê, ajudava no parto. Ele diz que ajudava as pessoas a parirem suas próprias idéias. Diz que Atenas era uma égua preguiçosa, e ele um pequeno mosquito que lhe mordia os flancos para provar que estava viva. Achava que a principal tarefa da existência humana era aperfeiçoar seu espírito. Acreditava ouvir uma voz interior, de natureza divina, que lhe contava a verdade, e para ele só existia um deus. Era capaz de ficar horas imerso em si mesmo, em profundos momentos de reflexão. Não foi por acaso que a Pitía, do oráculo de delfos, o proclamou como o homem mais sábio de Atenas.
Sócrates foi convidado para o Senado dos quinhentos, e manifestou sua convicção de liberdade combatendo as medidas que considerava injustas. A democracia estava se implantando em Atenas, e Sócrates respondia qual era o melhor Estado, como poderia se salva-lo. O os homens mais sábios deviam governa-lo, pois eles podem controlar melhor seus impulsos violentos e anti-sociais. Assim, nos afastaríamos do comportamento de um animal. O Estado não confiava na habilidade e reverenciava mais o número do que o conhecimento. Portanto, Sócrates era aristocrático, pois há inteligência que baste para se resolver os assuntos do Estado.
A reação do partido democrático de Atenas não poderia ser outra. Em um júri de cinqüenta pessoas, foi acusado condenado por ateísmo e por "perverter a juventude de Atenas". Muitos jovens seguiam Sócrates, e tornavam-se seus discípulos. Anito, um líder democrático tinha um filho discípulo de Sócrates, que ria dos deuses do pai, voltava-se contra eles. Sócrates foi considerado, aos setenta anos, líder espiritual do partido revoltoso. Foi condenado a morte, e devia tomar cicuta (um veneno). Podia ter fugido da prisão ou pedido clemência ou ter saído de Atenas, mas não quis. Assim, se tornou o primeiro mártir da filosofia. Não deixou nenhuma obra escrita, e estudiosos defendem a tese de que era analfabeto. Sua morte nos é contada por Platão, que foi um de seus discípulos, e fiz aqui um resumo:
"(...) Ele se levantou e se dirigiu ao banheiro com
Críton, que nos pediu que esperássemos, e esperamos, conversando
e pensando (...) na grandeza de nossa dor. Ele era como um pai do qual
estávamos sendo privados, e estamos prestes a
passar o resto da vida órfãos. (...) A hora do por do
sol estava próxima, pois ele tinha passado um longo tempo no banheiro.(...)
Pouco depois, o carcereiro entrou e se postou perto dele, dizendo:
-A ti, Sócrates, que reconheço ser o mais nobre, o mais delicado e o melhor de todos os que já vieram para cá, não irei atribuir sentimentos de raiva de outros homens(...) de fato, estou certo de que não ficarás zangado comigo, porque como sabes, são os outros , e não eu o culpado disso. E assim, eu te saúdo, e peço que suportes sem amargura aquilo que precisa ser feito, sabes qual é a minha missão- e caindo em prantos, voltou-se e retirou-se.
Sócrates olhou para ele e disse:
-Retribuo tua saudação, e farei como pedes.- E então, voltando-se para nós disse:- Como é fascinate esse homem; desde que fui preso, ele tem vindo sempre me ver,e agora vede a generosidade com que lamenta a minha sorte. Mas devemos fazer o que ele diz; Críton, que tragam a taça, se o veneno estiver preparado.(...)
Críton, ao ouvir isso fez um sinal para o criado, o criado foi até lá dentro, onde se demorou algum tempo; depois voltou com o carceireiro trazendo a taça de veneno. Sócrates disse:
-Tu, meu bom amigo, que tem experiências nesses assuntos, irá me dizer como devo fazer.
O homem respondeu:
-Basta caminhar de um lado para outro, até que tuas pernas fiquem pesadas., depois deita-te e o veneno agirá. -Ao mesmo tempo estendeu a taça a Sócrates, (..)que segurou-a (...)
E então levando a taça aos lábios, bebeu rápida e decididamente o veneno.
Até aquele instante a maioria de nós conseguira segurar a dor; mas agora, vendo-o beber e vendo, também que ele tomara toda a bebida, não pudemos mais nos conter; apesar de meus esforços ,lágrimas corriam aos borbotões. (...) Apolodoro, que estivera soluçando o tempo todo, prorrompeu num choro alto que transformou-nos a todos em covardes. (...)
E então, o próprio Sócrates apalpou as pernas e disse:
-Quando chegar ao coração, será o fim.-(...) e disse aquelas que seriam as suas últimas palavras:
-Críton, eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar de pagar a dívida?
-A dívida será paga - disse Críton. (...)
Foi esse o fim de nosso amigo, a quem posso chamar sinceramente de o mais sábio, mais justo e melhor de todos que conheci. "